Fortuna Critica

O fantástico e o marasmo

Leonardo Brasiliense


Carlos André Moreira
Zero Hora, Porto Alegre, 28/05/2019

A obra do escritor Leonardo Brasiliense, que transita entre a literatura para adultos e para jovens, é um trabalho de detalhes. Mesmo seus livros mais extensos são breves, e a maior parte de seu material publicado até hoje é de contos. O que forma o centro da obra desse autor duas vezes vencedor do Jabuti é justamente a tensão entre a concisão necessária pelo conto e a obstinação em desdobrar uma situação narrativa até onde ela puder ser levada, mesmo que esse destino transcenda o próprio limite do realismo. É novamente esse o foco de seu livro mais recente, a coletânea Eu Vou Matar Maximillian Sheldon, que o escritor autografa nesta terça-feira (28), a partir das 18h, no Baden Cafés Especiais (Av. Jerônimo de Ornelas, 431)
Eu Vou Matar Maximillian Sheldon enfileira 10 contos em que personagens de vidas banais se tornam um tanto obcecados por circunstâncias inesperadas que irrompem em suas existências. No primeiro conto, Cafezinho e Castigo, um homem que espancou a própria mãe sai a esmo pela cidade natal e decide visitar um amigo que trabalha nos Correios. Sem encontrar o amigo, decide enrolar o funcionário do balcão para convencê-lo a lhe oferecer um cafezinho. É apenas a primeira das histórias em que uma decisão impulsiva de um personagem o colocará em uma trajetória de equívocos, estrutura que se repete também no conto título, uma reelaboração da música Maximillian Sheldon lançada pela banda Ultraje a Rigor no disco Sexo!!, de 1987. Na trama, o protagonista contrata um detetive para investigar sua namorada e descobrir uma suposta traição, mas logo se vê enredado na situação constrangedora de ser ele o vigiado pelo investigador a cada passo.
Entre uma história e outra, enfileiram-se mistérios e desconcertos. Um homem que chega ferido e desmemoriado a um hospital em Pequenos Pecados; um funcionário com a impressão obsessiva de haver engolido uma aranha no café, em Dentro de Mim, as anotações de um diário fora de ordem em Uma Vida ou Mais.
São contos aos quais não falta uma dose de brutalidade e um agudo senso de observação da crueldade, mas é na forma honesta como a erupção de um acontecimento fantástico descortina o desespero do marasmo anterior que torna o olhar do autor, mais do que sincero, generoso.

 

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